RESUMO –  Esta oficina surge da minha pesquisa de mestrado no Instituto de Artes da UNESP, onde eu relaciono minha prática como educadora, artista e modelo nas oficinas colaborativas de modelo vivo que realizo desde 2012 junto com o coletivo colabMOV (São Paulo – Brasil) com estudos em teoria, crítica e história da arte. Deste diálogo surgiu o material didático-poético intitulado “Desenhar de dentro para fora: proposições artístico-educacionais para práticas colaborativas do desenho de observação de modelo vivo”, que sistematiza os procedimentos necessários para a realização de um encontro colaborativo de modelo vivo e apresenta proposições para experimentação coletiva. Dessa forma, o material é um facilitador que empodera qualquer pessoa interessada em promover sua própria oficina colaborativa de modelo vivo em sua comunidade. A oficina proposta para o II Congresso Internacional Online entre Arte, Cultura e Educação se iniciará com uma breve descrição da experiência do coletivo colabMOV, compartilhando com as pessoas presentes os princípios fundamentais para a realização de uma oficina colaborativa de modelo vivo. Na segunda parte, proponho que realizemos em conjunto alguns dos exercícios colaborativos de modelo vivo descritos no material didático-poético intitulado “Desenhar de dentro para fora: proposições artístico-educacionais para práticas colaborativas no desenho de modelo vivo”, adaptados para o ambiente virtual. Ao final, realizaremos uma roda de conversa onde compartilharemos os desenhos e também relatos sobre sobre a experiência de posar, observar e desenhar.

OBJETIVOS – A premissa inicial de uma oficina colaborativa de modelo vivo é a ausência de indivíduos contratados para ocupar o lugar de modelo: ao invés disso, todas/os participantes são convidadas/os a experimentarem este papel, revezando-se entre si. Desenhar um corpo é, de alguma forma, decifrá-lo; entender como as suas partes se relacionam e, talvez mais importante do que tudo, reconhecer a sua existência. Quando todas/os experimentam o lugar de modelo, confirmamos coletivamente a existência da diversidade dos corpos em sua multiplicidade de gêneros, raças, tamanhos e subjetividades. Assim, desnaturaliza-se a ideia do corpo neutro, perfeito, e passa-se a enxergar possibilidade para além dos corpos hegemônicos da cultura visual canônica. A prática colaborativa de modelo vivo procura desconstruir noções equivocadas sobre a existência de uma “beleza ideal”, contribuindo assim para que mulheres e homens ressignifiquem as suas relações com os próprios corpos e também com sua produção artística. Opondo-se à instituição cultural do nu, fundamentada na objetificação dos corpos observados, a oficina colaborativa de modelo vivo enxerga a pessoa que ocupa o lugar da/o modelo como sujeito pensante. Trabalhando a observação dos corpos e a relação com a nudez por um viés crítico-feminista, propomos uma reflexão sobre a representação visual do corpo humano, destrinchando preconceitos e incitando os envolvidos construir suas próprias estratégias artísticas para interferir nesta realidade. O ateliê colaborativo configura-se então como um espaço de questionamento, um espaço híbrido onde a experimentação em desenho e com o corpo se somam, se confundem e se complementam. Importante destacar que nós, educadoras-propositoras, também entramos no revezamento entre as situações de desenho e de pose. Assim, ocupamos um papel híbrido de educadoras/artistas/modelos, desconstruindo a dicotomia mestre/aprendiz, desenhista/modelo, observador/observado, objeto/sujeito. Com esta experiência criamos novos repertórios acerca do que pode ser a presença de um corpo (principalmente, um corpo de mulher) em um ambiente de ensino, aprendizado e prática de arte. O material poético-educacional “Desenhar de dentro para fora” sistematiza estes fundamentos para uma oficina colaborativa de modelo e apresenta convites para atividades de desenho baseadas na observação ativa, a experimentação gráfica do próprio traço e também a reflexão sobre os corpos no ateliê. Exercícios como o desenho cego, desenhar com as duas mãos ao mesmo tempo, desenhar com a mão oposta da que se está acostumado, entre outros, mostram-se então essenciais para a formação de um ambiente de experimentações e pesquisa, onde nos sentimos livres e incentivados a estar novas formas de desenhar.

Tipo de vivência proposta: Oficina
Ministrante convidada: Lidia Ganhito
Duração da experiência: 2 horas
Material necessário: Materiais de desenho (papéis de diferentes tamanhos e cores, lápis, canetas, canetinhas, giz de cera, entre outras possibilidades).